História & Modelismo 

Para onde será que foi a diversão?

Frequentemente leio críticas (as vezes ríspidas) de kits, fabricantes, produtos, etc. E fico questionando o que motiva tantas críticas por parte dos consumidores.

É fato que, de uns 20 anos para cá, o modelismo mudou radicalmente, surgiram novas tintas, pigmentos, fabricantes, publicações, filtros, washes, e uma miríade de outras coisas. Como se não bastasse tudo isso, novos acessórios também ficaram mais disponíveis, como detalhes em resina, photoetched, decalques, e toda sorte de aftermarkets.

Dessa forma, podemos dizer sem sombra de dúvidas que no quesito detalhamento, a qualidade dos kits aumentou muito. Dia destes estava folheando uma revista de modelismo de 1980 chamada Scale Aircraft Modeler e é possível reparar como naqueles tempos as dificuldades eram muitas, não somente de materiais, como de referências em todos os sentidos como  também de qualidade de injeção.

Atualmente o processo de fabricação de um kit melhorou bastante se comparado há alguns anos atrás, quando visitei algumas fábricas de kits na República Tcheca em 2011 com o Nando Zavarelli (links aqui), achei interessante como o uso da tecnologia ajudou a aumentar a qualidade de produção.

Ainda não compreendo o que motiva tantas críticas. A grande justificativa dos “contadores de rebites” é a de que suas críticas ajudam os fabricantes a buscar o contínuo aprimoramento na qualidade de detalhes dos lançamentos, concordo que isto tem sim um certo valor, mas de que adianta um kit ter milhares de peças, (sim muitos kits já estão nesse número) ou centenas de decalques?! Recentemente montei um kit que tinha nada mais nada menos do que 580 decalques, e em contrapartida ele pode ser difícil ou demorado demais para montar? Vale mais a pena ter bons detalhes ou facilidade e diversão na montagem? Ambos são possíveis de obter, mas toda mágica tem seu preço…

Como conheci um pouco os processos de produção de kits, posso afirmar que algumas vezes alguns detalhes são deixados para trás, não por falta de pesquisa/conhecimento, mas simplesmente porque o processo de produção seria mais difícil, limitado pela tecnologia ou caro demais. E claro, não podemos nos esquecer que mais detalhes envolvem mais custos operacionais para a produção de um kit que consequentemente irá aumentar seu preço final. Quem é mais velho no modelismo já deve ter percebido que o valor dos kits aumentou consideravelmente nos últimos anos.

Um grande exemplo disso foi quando a Eduard precisou refazer todos os moldes do seu MIG-15 na 1/72, atrasando inclusive o lançamento, pois havia um pequeno detalhe que estava dando erro no molde o que resultou na completa perda dos mesmos, sendo necessário refazê-los para que o kit saísse da maneira correta. Neste meio tempo, alguns kits lançados em pré venda foram vendidos com os sprues incorretos e a Eduard na época, fez o recall dos sprues. Se você tiver o kit Dual Combo do MIG-15 (Eduard #2113) pode ser que ainda consiga trocar os sprues. Confira se o seu kit está com os sprues corretos. Querendo ou não, o custo desse trabalho todo obviamente influencia no preço final do kit. Não estou dizendo que os kits não devam ser mais detalhados, longe disso, apenas penso que talvez estejamos prestando mais atenção na formiga do que no elefante.

De vez e quando aparece por aí alguém fazendo um “review descompromissado” onde na maioria das vezes são mostrados apenas os pontos negativos, dizendo coisas como: a fuselagem tem o formato errado! Estão faltando antenas! O nariz é 0,8mm menor! Às vezes tenho a impressão que para dar credibilidade para a sua opinião, você precisa criticar, criticar e criticar, apontar com todos os dedos onde estão os erros. Mas, e o que o kit tem de legal? Alguém analisou se ele monta fácil ou tem outros detalhes bacanas? Onde fica a diversão da montagem? Penso que é melhor celebrar o lançamento, por exemplo, de um kit do Super Tucano mesmo que tenha alguns erros, do que não ter kit algum lançado.

Apenas me preocupa o fato de ler críticas demais sobre novos kits/produtos nas redes sociais por aí, embora eu não participe delas por opção, de vez em quando dou uma lida para saber o que está acontecendo. As redes sociais têm um alcance inimaginável para qualquer pessoa, porém às vezes nos esquecemos da responsabilidade que temos quando dizemos algo nestes locais. Você já pensou que tipo de interpretação ou resultado um comentário seu pode ocasionar nas outras pessoas? Já levou em consideração sua responsabilidade sobre suas ações nas redes sociais?

Imagine um novato no modelismo nos dias hoje. Ele terá à sua disposição, coisas inimagináveis para nós mais velhos no hobby, sempre digo que qualquer novato hoje em dia começa 15 anos à frente de quando comecei. Porém, qual é a motivação para esse novato ou interessado no hobby? Será que tantas críticas a tudo são mesmo necessárias? Não sei quanto a você, mas se estivesse conhecendo o hobby atualmente, certamente iria me perguntar porque praticar um hobby onde tudo parece sempre estar sempre tão errado.

Não são raros os casos onde alguns modelistas simplesmente abandonam o hobby porque não atingiram o nível de resultado e detalhamento que desejavam, ou que é imposto pelos outros modelistas.

Talvez estejamos colocando pressão demais em nós mesmos… Alguns até comentam de uma doença chamada AMS (Advanced Modeller Syndrome) que trata sobre esta coisa de querer montar modelos cada vez mais fieis, deixando o modelista tão obcecado com isso que acaba se esquecendo da verdadeira finalidade do hobby. Será mesmo necessária a busca por tanta perfeição assim?

A questão é. Queremos mais detalhes nos kits ou diversão na montagem? Creio que a melhor resposta seria o caminho do meio, podemos sim ter kits com mais detalhes, claro que podemos (e queremos), mas também não devemos nos esquecer que eles antes de mais nada, precisam ser fáceis de montar e nos proporcionar divertimento, relaxamento, etc. Afinal de contas tudo isso é só um hobby, onde a finalidade é se divertir.

Finalizo com um trecho de uma oficina realizada pelo Mig Jimenez onde ele fala sobre o realismo e o modelismo, vale a pena a reflexão.


 

É isso aí,

Plastiabraço e até a próxima!

 

Written by 

Editor do Blog SprueMaster

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25 Thoughts to “Para onde será que foi a diversão?”

  1. Márcio Loureiro

    Eu sou plastimodelista desde sei lá quando. Montei muitos kits já, alguns ficaram bons, outros ruins demais, porém nunca me preocupei ou me deixei levar por opiniões alheias, afinal uma vez ouvi que o que dizem de nós pouco importa. Montar para mim sempre foi uma diversão e sempre será, agora tenho uma companheira de 9 anos me ajudando e as vezes a coisa complica muito rsrs, mas como já disse a diversão do hobby sempre foi o mais importante para mim e para ela está sendo muito bom também.
    Sou daquela época que os amigos que montavam se reuniam e se divertiam com os erros alheios, uma brincadeira saudável, não essa hipocrisia da perfeição que vejo hoje em dia. tudo milimetricamente medido, todas as cores sem o mínimo de diferença do original. Isso é hobby? isso é diversão? Sinto muito, mas jamais foi.
    Continuarei sim usando o que quero, fazendo da forma que acho que ficam legais e o melhor continuo nem ligando para a opinião dos “experts” que por um mínimo se tornam pessoas que sempre me mantiveram afastado de grupos, encontros e tal, abraços Lucas!!

    1. Pois é Marcio,

      Esse pessoal existe em qualquer hobby, o lance é realmente não dar muita atenção para o “mimimi” e ser feliz 🙂

      Um grande plastiabraço e obrigado por comentar!

  2. Concordo com seu ponto de vista, afinal, se é um hobby, é pra ser um passatempo, uma forma de distração em relação aos problemas ou assuntos sérios da vida profissional. Um hobby, qualquer que seja deve, antes de mais nada, nos divertir e nos distrair. Fazer por prazer, sem pretensão de perfeição ou de aprovação de terceiros.

    Particularmente, não monto muita militaria, apenas aviões de combate (infelizmente não muitos em razão dos valores), atualmente estou focado mais em robôs em geral e nessa ramificação do plastimodelismo, inclusive, há esse tipo de gente que o pessoal comentou anteriormente. Gente que quer que o modelo seja fiel ao \’real\’, que os decalques aplicados sejam os corretos, que as cores sejam idênticas ou no mínimo aceitável, apenas de tonalidades diferentes das indicadas no manual e ai de você se não seguir a risca a regra moral imposta por membros \’experts\’.

    No início até encanava com a opinião de terceiros, mas quanto notei que o hobby havia se tornado motivo de estresse e desavenças, resolvi sair dos grupos de redes sociais ou mensageiros eletrônicos, pois aquilo acabava sendo prejudicial… As conversas nos grupos não eram sobre técnicas, dicas e afins, mas o que mais acontecia eram fofocas sobre membros que não estavam naquele determinado grupo, sobre algo \’errado\’ ou \’absurdo\’ que ele fez, isso sem contar aqueles casos de membros que se achavam os maiorais, sempre em detrimento dos demais membros – e muitas vezes esse maiorais eram uns grandes… Deixa pra lá rs

    A verdade é que a partir do momento em que comecei a montar meus modelos pensando apenas na minha satisfação, comecei a evoluir e fazer coisas que achava impossíveis de eu fazer. O negócio é se divertir e se desestressar, não o contrário.

    1. Oi Sato tudo bem?

      Obrigado por dedicar um tempo em escrever para mim 🙂

      Concordo com suas considerações, infelizmente o ego de algumas pessoas ainda fala mais alto, e isso acaba prejudicando as relações no modelismo mesmo. Deixei de participar de grupos e tudo o mais também.

      Muito bacana que tem se dedicado aos mechas, tenho alguns aqui para montar da série VOTOMS mas ainda não tive coragem de encarar a montagem…

      Plastiabraços!!

  3. Rafael

    Nossa Lucas… a vontade que eu tenho é copiar e colar esse texto em cara grupo de plastimodelismo que eu participo.
    O triste é que não é só com isso… hoje tudo está assim.. as pessoas vão no cinema e só falam de como o filme não foi o que elas esperavam. Vão em um restaurante e comparam com o outro que é melhor. Compram um carro e nunca estão satisfeitas pq tinha um modelo melhor… Eu tambem fico me perguntando onde está a diversão.

    Obrigado pelo texto!

    1. Opa, que bom que gostou do texto Rafael!

      Manda bala! compartilha o link do post! hhehe

      Eu deixei de participar de grupos de modelismo quando percebi que eles só me aborreciam ao invés de ajudar a melhorar minhas montagens 🙁

      Plastiabraço e boas montagens!

  4. Ricardo Iglesias

    Fantastico , traduziu tudo que ocorre hoje em dia no cenário do Plastimodelismo no Brasil, sempre vejo comentários nestes sentidos, vejo pessoas se vangloriando que tal cor está errada porque isso ou por causa daquilo, pessoas dizendo que tal parte do avião (e faz questão de dizer, não apenas em português mas em todas as línguas possíveis), infelizmente esta máxima está valendo também para aqueles que gostam de montar figuras, ou seja, temos muitos modelistas que se preocupam mais com demonstrar que tem o conhecimento e a técnica do que mostrar a diversão da montagem, de ensinar ao iniciante o “pulo do gato” ou a “alternativa utilizada” para chegar ao final desejado. Sempre que vejo uma pergunta de um iniciante, eu digo.. Cara sou novo no hobby, mas já te adianto, você precisa de duas coisas primordiais para iniciar, a primeira é montar para você e a segunda se divertir descobrindo como fazer, eu digo sempre, não importa como vai ficar o seu modelo, o que importa é que você esta satisfeito com o seu trabalho, afinal é você que esta montando e o esta fazendo para você. Não me importo com detalhes de kits, eu quero antes de qualquer coisa é montar, é ter aquele momento na bancada onde você pensa apenas no kit e no que esta para fazer nele. Claro que um elogio ao seu trabalho lhe deixa orgulhoso, mas uma critica seja ela em relação ao kit comprado antes mesmo do iniciante abrir a caixa joga um balde de água fria nele, às vezes não se pensa que tem gente que não quer, ou não pode gastar muito com os kits, Para mim pouco importa se o bico da aeronave tem que ter 0,006 mm, ou se ta faltando rebites, ou ainda, se aquele kit não é o top, quero é abrir a caixa, visualizar a montagem e por mão a obra, afinal, estou montando para mim.

    1. Oi Ricardo,

      Obrigado por dedicar um tempo em escrever para mim.

      E é exatamente isso que você disse, muitos modelistas não percebem que a crítica em demasia atrapalha o hobby.

      E como eu sempre digo, isso é apenas um hobby.

      Plastiabraços!

  5. João Carlos

    Parabéns pelo seu artigo. Achei excelente e reflete muito a realidade de muitos modelistas. Acredito que independente do que se monta o objetivo final é ver o kit finalizado, mas admito que a crítica de certas pessoas podem desanimar os que querem iniciar no hobby, pois a pressão externa é tão grande que a pessoa já desiste antes de começar. Acho que isso também afasta o público de praticar esse hobby, já que tem medo da rejeição dos veteranos que não deixam passar nada. Já vi fóruns discutindo que quem monta blindado por exemplo, se não fizer o “weathering”, não é válido como modelo finalizado, ou seja, montar já não basta, como vi no grupo do facebook uma discussão que certas pessoas quando chegam na fase final que são os efeitos além da pintura, desistem de terminar o kit, pois são muito detalhes exigidos para ser considerado correto.

    1. Oi João, obrigado pelo comentário.

      Você tem razão, infelizmente esse preciosismo demasiado acabar por atrapalhar. Deixei de frequentar fóruns porque eu mais me aborrecia do que me divertia neles, o facebook encerrei minha conta há anos pela mesma razão e não sinto falta nenhuma dela. Existem muitas formas de se aprender mais sobre o modelismo sem ter que ouvir as reclamações dos Deuses do modelismo o tempo todo (risos)

      Um grande plastiabraço!

  6. Sandro Moretti

    Lucas, excelente texto. De um tempo pra cá deixei de lado um pouco a perfeição pra voltar a me divertir.

    Deixemos ela pra que tem talento nato!

    Um abraço,

    Sandro.

    1. Pois é Sandro!

      Não podemos esquecer da diversão.

      Plastiabraço!

  7. Rafael Loose

    Olá Lucas,
    Muito legal o texto. Parabéns. Realmente a evolução do hobby tem facilitado muito a vida do modelista, basta a ver as centenas de novas opções de ferramentas e insumos que marcas como AMMO e AK lançam no mercado todos os dias.
    Mas, o outra lado desta história é que todos essas facilidades trazem consigo um tipo de técnica, ou estilo de modelismo que é muito mais difícil de reproduzir. Acho a linha espanhola muito bonita, e está na “moda”. Mas será que isso também não está afastando os iniciantes? Será que não devemos primeiro começar com o básico?
    Acho que essa evolução do hobby além de encarecer está também “forçando a barra” para os novatos.

    1. Pois é Rafael, não se vê mais tantas coisas dedicadas aos novatos por aí….

      Quanto a escola espanhola realmente ela “está na moda” hehehe

      Plastiabraço!

  8. Horst

    Parabéns e felicitações pelo magnífico artigo Lucas!
    Neste seu artigo você foi diretamente no ponto principal ao qual se destina nosso hobby: diversão descontraida, passa tempo e terapia contra o estresse cotidiano. Comecei no modelismo montando kits da Revell brasileira (A. Kikoller), Atma e Trol que eram vendidos em papelarias e lojas de brinquedos nos anos 60. Eram simples, toscos e muito baratos. Todavia proporcionavam um prazer imenso quando terminados em questão de algumas horas, tornando-se em um “vício” que não larguei até hoje!
    Atualmente os kits e os itens a eles relacionados evoluiram imensamente e gosto disto, mas continuo montando por puro prazer. Creio que não existe kit ruim. O que existe é a falta de vontade ou preguiça.
    Lucas, continue com seus artigos incríveis e que muito contribui aos modelistas de nosso país.
    Saudações!

    1. Muito Obrigado Horst,

      Fico contente em saber que o tema lhe agradou.

      Plastiabraço!

  9. Marco

    Muito bem abordado, alguns modelistas (contadores de rebites) as vezes sao um pé no saco mesmo, voce monta um kit e esta espetacular, mas por um detalhe besta eles demonizam seu kit, ai se voce falar que usou acrilex, é apedrejado…
    o problema é que tem modelista que leva a coisa a sério, esquece que é um hobby para se divertir.
    eu aqui no meu cantinho montando kit baratinho por diversao sem comprometimento nenhum, fazendo experiencias e experiencias com tintas, vernizes, materiais, ferramentas… diversao garantida
    garanto que muito kit considerado goiaba e cheio de “defeitos” proporciona horas de diversao

    1. É isso ai Marco, infelizmente o pessoal gosta mesmo é de criticar…

      Plastiabraço!

  10. ANGELO

    Parabéns Lucas, você foi muito feliz na escolha do tema, como em toda atividade humana, o EGO mais atrapalha do que ajuda. O Mig tem outro vídeo falando do terror do concursos, outro assunto fantástico para você abordar.

    1. Obrigado Angelo, fico feliz em saber que o tema lhe agradou.

      Sim, o tal do ego atrapalha muito em todos os aspectos da vida. Atualmente as pessoas buscam desesperadamente uma forma de se “destacar” de se sentir “melhor do que o outro” prova disso é o sucesso das redes sociais, que passaram a ser uma vitrine onde as pessoas vendem suas imagens.

      Este vídeo que você citou realmente é bem interessante e com certeza rende mais um post, já anotei essa pauta aqui.

      Um grande plastiabraço e boas montagens!

  11. David Oliveira

    Bem colocado Lucas, suas palavras são de muitos nós modelista que preza a diversão.

    1. Obrigado David,

      Plastiabraço e boas montagens!

  12. Gui

    Muita viadagem e bla bla blá deixam o hobby um pé no saco.

    Vamos montar kit e abraçar nossos amores, mulheres, filhos, amigos, porque saporra é só hobby!

    1. Ludmila

      Isso mesmo Gui! Pra que fazer guerra se o propósito é se distrair!

      Bora colar plástico e se entreter!
      #PorMenosBrigasNoHobby

    2. pois é Gui, pessoal às vezes leva tudo a sério demais.

      Plastiabraço!

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